Eis aí tua mãe


O evangelho de São Lucas registra o momento em que "uma mulher ergueu a voz do meio da multidão e disse; Ditoso o ventre que te trouxe e ditosos os seios em que foste amamentado" (Lc. 11,27). Esta mulher como que da inicio a profecia de Isabel, quando tomada pelo Espírito Santo exclama: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre (1,42). Essa verdade ecoa todos os dias na terra com os justos e pecadores, no céu com os santos e anjos e até mesmo no mais profundo dos abismos pelos anjos caídos que não poucas vezes já foram obrigados a confessar - ainda que contra a vontade - a grandeza e majestade atribuída ao nome da pobre serva do Senhor.

Agora em 25 de Março - nove meses antes do natal - celebramos a festa da Anunciação, quando "vindo a plenitude dos tempos Deus envia seu Filho" (Gl 4,4) e o faz por meio de Maria, como que em um conclave onde reúnem-se a Santíssima Trindade e todos os anjos e optam por fazer tudo conforme sempre fizeram, respeitando a liberdade humana. Para a alegria de todos e final feliz da história do homem já tão desfigurado daquilo que foi o plano do Criador, faça-se o Deus-Homem, que habite no seio desta jovem feliz porque acreditou (1,45).


Bendita é Maria na sua pequenez, porque é obra de Deus, não possui méritos próprios mas como é difícil entender e principalmente aceitar a vontade de Deus que quis dignificar sua Filha, tornando-a sua mãe. Acaso se alguém perguntasse a você, quem é a sua mãe, você responderia que ela é uma qualquer?


Maria é digna de louvor junto com seu Filho, louvá-la é louvar o poder de Deus que nela fez maravilhas. É aclamada porque assim também é o seu Filho o Rei de Jerusalém. Os mantos são estendidos diante d’Ele, fala-se dos prodígios que realizou, ergue-se um grito de louvor: «Bendito seja o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas!» (Lc 19, 38). Esse mesmo Rei que é humilhado, flagelado e encontra o seu trono no madeiro, onde reside a sua glória e de todos os cristãos.


No entanto onde está Maria? Não há vemos nos grandes momentos onde a multidão o aclama, entre as palmas na entrada de Jerusalém, mas sim junto ao seu Filho no calvário, sofrendo conjuntamente as dores e orando "Eli Eli, lama sabactâni" - Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Mt. 27,46). 


Vejamos a seguinte narração do apóstolo João, no capitulo dez:

31os judeus pegaram pedras para apedrejar Jesus. 32E ele lhes disse: “Por ordem do Pai, mostrei-vos muitas obras boas. Por qual delas me quereis apedrejar?” 33Os judeus responderam: “Não queremos te apedrejar por causa das obras boas, mas por causa de blasfêmia, porque sendo apenas um homem, tu te fazes Deus!"


Tudo bem que Jesus faça boas obras, mas que esteja acima dos outros homens, isso já incomoda que seja elevado como Filho de Deus isso não é tolerado pelo egoísmo humano. Assim também acontece com a sua Mãe. Jesus - como homem, verbo encarnado - e Maria na racionalidade não são necessários para Deus que é Todo-Poderoso. No entanto quis Deus que a salvação ocorresse através de seu Filho feito homem, para tornar o homem Deus, e Mãe e Filho, ambos na Glória colaboram para a Economia da salvação em formas distintas. Isto fica explicito quando ao término de sua "hora", Jesus vendo que tudo está consumado entrega Maria a seus discípulos na pessoa de João e só então entrega o espírito nas mãos do Pai.


João é o único que narra o fato de que Maria esteve no calvário, ele que conta o episódio das bodas, onde atendendo a um pedido de sua Mãe ele inicia a sua hora, que é consumada ao proferir estas palavras "Ecce mater tua" - Eis aí tua mãe.
Após entregar não somente a sua Mãe ao discípulo, também entrega o discípulo a mãe. Analisando exegeticamente este trecho ele se encontra na linguagem de apresentação, definitivamente indicando uma estrutura elaborada e não um simples fato.
No mesmo evangelho encontramos a apresentação de Jesus feita por João Batista que diz "Ecce Agnus Dei, ecce Qui tollit peccatum mundi" - Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira os pecados do mundo. São estruturas idênticas as quais São João apresenta Jesus e sua missão redentora e a Mãe na sua maternidade espiritual.





E ali no alto da cruz, ainda se vê o crucificado apontando em seus últimos esforços, eis ai tua mãe, peçamos a graça de poder louvar a Deus através de Maria sem medo, olhar nos olhos da Virgem dolorosa e glorificar a Deus por ter lhe dado a honra de estar junto de seu Filho, educando-o e amando-o da mesma maneira que agora faz conosco. Entreguemos nossas angustias no pesar da vida, nossas frustrações, lágrimas e cansaço no regaço de nossa Mãe, onde nossa alma encontrará sossego (Sl 130,2).




Felipe Mazzarollo
CLJ Nossa Senhora da Boa Viagem



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